segunda-feira, abril 23

Idade Média: A Formação do Homem de Fé.

5. Idade Média: A Formação do Homem de Fé.

Os parâmetros da educação na idade média se fundam na concepção do homem como criatura divina, de passagem pela Terra e que deve cuidar, em primeiro lugar, da salvação da alma e da vida eterna. Tendo em vista as possíveis contradições entre fé e razão, recomenda-se respeitar sempre o princípio da autoridade, que exige humildade para consultar os grandes sábios e intérpretes, autorizados pela igreja, sobre a leitura dos clássicos e dos textos sagrados. Evita-se, assim, a pluralidade de interpretações e se mantém a coesão da igreja. Predomina a visão teocêntrica, a de Deus como fundamento de toda a ação pedagógica e finalidade da formação do cristão. Quanto às técnicas de ensinar, a maneira de pensar rigorosa e formal cada vez mais determina os passos do trabalho escolar.

A Educação na Idade Média é uma síntese da fundamentação da Educação Medieval, onde a religião surge como elemento singular, que,  exposto à racionalidade, acentua a preocupação apologética, ou seja, a defesa incontestável da fé cristã. Divide-se a educação na Idade Média basicamente em duas tendências que aqui estão especificadas: a educação Patrística e a Escolástica, representadas respectivamente e  principalmente por Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino. 

Com a queda do Império Romano (séc. V),  deu-se a formação de inúmeros reinos bárbaros cujo os chefes pouco a pouco foram sendo convertidos ao cristianismo, surgindo assim uma soberana influência  da Igreja na educação do mundo ocidental.

O predomínio da temática religiosa, da defesa da fé cristã e do trabalho de conversão dos não-cristãos, onde o “crer para compreender e compreender para crer” fez com que a cultura greco-romana praticamente desaparecesse, principalmente no período feudal, salvo pelos monges que conseguiram conservá-la nos mosteiros.

Pode-se dividir, simplistamente, a Idade Média em duas tendências fundamentais: a Educação Patrística, que auxilia a exposição racional da doutrina religiosa, e a Escolástica, dominante nas escolas durante o Renascimento carolíngio, onde se pretende promover uma especulação filosófico-teológica.

2 A EDUCAÇÃO PATRÍSTICA

Filosofia contida nos trabalhos dos Padres da Igreja, (de onde originou-se o nome), inicia-se no período decadente do Império Romano, no século III. A retomada da filosofia platônica fundamenta a necessidade da criação de uma rigorosa ética moral, do controle racional das paixões e a predileção pelo supra-sensível.

A patrística auxilia a exposição racional da doutrina religiosa, preocupando-se principalmente com a relação entre fé e ciência, com a vida moral, com a natureza de Deus e da alma Alguns de seus representantes principais foram Clemente de Alexandria, Orígenes e Tertuliano.  Porém, a figura de principal destaque é Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona.

Santo Agostinho defende uma iluminação pela qual a verdade é infundida no espírito humano por Deus e segue, conforme citado anteriormente, a tradição platônica, que “via sempre o Perfeito por trás de todo imperfeito e a Verdade absoluta por trás de todas as verdades particulares”. (ARANHA; MARTINS, 1986, p.134).

3 A EDUCAÇÃO ESCOLÁSTICA

A especulação filosófico-teológica que se desenvolve do séc. IX até o Renascimento é denominada escolástica, assim designada por ter sido dominante nas escolas surgidas durante o Renascimento carolíngio.

O Imperador Carlos Magno (séc. VIII), com o intuito de incrementar a cultura, fundou as escolas monacais, junto aos mosteiros, as catedrais, junto às igrejas e as palatinas, junto às cortes. Contratou diversos sábios, como o inglês Alcuíno de York, que foi diretor da escola instalada no palácio do próprio Imperador. A base do currículo educacional medieval, tratou sobre tudo das “Sete Artes Liberais”, distinguidas já por Platão no que chamou de trivium (gramática, retórica e dialética) e quadrivium (aritmética, música, geometria e astronomia). As artes liberais eram assim chamadas por compreender não somente o conhecimento, mas uma produção que decorria imediatamente da razão. Desenvolveu-se então um novo conceito de educação, onde, acreditavam os pensadores desta época, as palavras possuíam em si a possibilidade de resgatar a experiência humana esquecidas. As universidades surgiram a partir do séc. XI, destacando as de Paris, Bologna e Oxford, tornando-se focos fecundos de reflexão filosófica.

A Igreja condena, a princípio, o pensamento aristotélico, que, traduzido a partir do séc. XII, chegava deformado à Europa, adquirindo contornos panteístas, pois era traduzido do grego para o sírio, do sírio para o árabe,  do árabe para o hebraico e do hebraico para o latim medieval. Santo Tomás de Aquino consulta a tradução de Aristóteles feita diretamente do grego, recupera o pensamento original, faz as devidas adaptações à visão cristã, e escreve a “Suma Teológica”, onde as questões de fé são abordadas racionalmente e coloca a filosofia como instrumento de auxílio ao trabalho da teologia. Aristóteles assim é cristianizado e surge então a filosofia aristotélico-tomista.

O mais destacado dos escolásticos, Santo Tomás de Aquino (1225-1274), dividia as verdades em duas categorias: crenças cujas as veracidades podiam ser provadas com a razão, e crenças cujas as verdades ou falsidades não podiam ser provadas. Considerava que a razão não era inimiga da revelação, e que, quanto mais racional a humanidade se tornava, também se tornava mais cristã.

À  partir do século XIV, posturas dogmáticas contrárias à reflexão, obstruem as pesquisas e a livre investigação. Assim, a escolástica sofre um processo de autoritarismo, o “princípio da autoridade”, a aceitação cega das verdades dos textos bíblicos.

Este período, denominado de a fase do magister dixit, que em latim significa “o mestre disse”, é marcada por um rigoroso controle, feito pelo Santo Ofício (Inquisição), órgão da Igreja que examinava o caráter herético das doutrinas. As obras julgadas proibidas eram colocadas numa lista, o  Index.  Caso considerassem o caso muito grave, o próprio autor era julgado, e se condenado, queimado vivo. Se a leitura fosse permitida, recebia a nihi obsta (nada obsta), e podia ser divulgada.Uma das figuras pouco enquadradas à escolástica com mais expressão foi o padre franciscano Roger Bacon (séc. XIII), pertencente à Escola de Oxford. Bacon foi perseguido em várias ocasiões, por gerar desconfiança ao tentar aplicar às ciências métodos de experimentação e matemáticos.





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